Angela Hirata tomou gosto pelo marketing quando ainda cursava a faculdade. Nessa época, trabalhou com o lançamento de franquias no Brasil. Apesar da minha formação em administração, comecei a tomar gosto por marketing, promoção e desenvolvimento, lembra. Ela começou a ser procurada para trabalhos free lance na área, o que acabou provocando sua saída da empresa onde trabalhava.
Dessa forma, passou a prestar serviços para Levi´s, Hering e Boticário e foi aumentando sua carteira de clientes até começar a trabalhar o lançamento da Couromoda, promotora de eventos de calçados e acessórios, em São Paulo, por volta de 1985. Nessa época, começou também seu envolvimento com a indústria de calçados.
Em 1986, veio a grande oportunidade para Angela. O então dono da Azaléia, Nestor de Paula, convidou-a para desenvolver o mercado japonês e asiático do setor calçadista. Começou aí um desafio e minha trajetória de viagens ao Japão, que durou dois anos, afirma. É sabido que não é nada fácil entrar no mercado japonês. Mas, por ter conhecido o estilista Kansai Yamamoto e a reitora do Bunka Fashion College, Angela tomou contato com entidades e empresas japonesas, especialmente com o empresário Yasuhiro Kubota, e as portas foram se abrindo. Começou a enviar calçados brasileiros para grandes lojas, como Washington Shoes e Yoshinoya. “No Japão, não é simplesmente trazer um produto, é preciso uma moda que agregue valor a ele”, diz. A partir de então, a executiva passou a ampliar o mercado asiático.
No final da década de 80, Nestor de Paula e Kasuhiro Kubota montaram uma empresa de comércio exterior de calçados no Rio Grande do Sul e convidaram a executiva a presidi-la. Nos sete anos em que ficou, Angela trouxe missões de federações para o Brasil e levou empresários brasileiros da cadeia produtiva calçadista para o Japão. Existe um provérbio japonês que diz: é melhor ver uma vez do que ouvir cem vezes, diz. Dessa forma, foram enviados técnicos para conhecerem o que os japoneses chamavam de qualidade em calçados. Angela passou a desenvolver trabalhos nos Estados Unidos para marcas como Ann Taylor, Anne Klein, Banana Republic e conseguiu trazer a produção de calçados dessas marcas para o Brasil. Atuou também na Itália.
Em 1997, dissolvida a trading, a executiva voltou a São Paulo e, em 1999, começou a prestar consultoria para a São Paulo Alpargatas e, no ano seguinte, foi convidada a abrir o departamento de comércio exterior. A entrada das sandálias de borracha no exterior foi na Galeries Lafayette, em Paris, onde foi montada uma minifábrica do produto. “Foi um sucesso. Durante um mês, enquanto nevava lá fora, eram vendidos até cem pares de Havaianas por dia”, conta. O sucesso do evento facilitou a exportação para o resto da Europa. Nascia o conceito fashion da marca na capital que lança moda.
Sua trajetória de sucesso deve-se, em parte, a visão de seu pai. “Meu avô era um bom negociante, meu pai sempre foi muito arrojado e ele sempre dizia assim: vocês não tem que ficar se prendendo somente na vida dentro da colônia, vocês são brasileiros e têm de seguir a vida de vocês, sair dessa redoma. Vocês têm que conhecer nossa cultura, saber suas origens, isso é muito importante, mas não ficar preso na colônia japonesa”, conta Angela, que tem 12 irmãos. Aos 14 anos, foi para um colégio interno em São Paulo.
Foi recepcionista aos 18 anos, depois trabalhou em uma editora chilena e também no Diners Club. Sem afetação, Angela prefere não dizer a idade. “Já passei da metade do século”, brinca. Divorciada, tem dois filhos: Emerson Shiromaru, 33, e Lincoln Shiromaru, 25. Como o próprio passaporte denuncia, ela passa 50% do tempo viajando, mas sempre encontra tempo para almoços de domingo com o pai, Takeo Hirata, 85, aqui no Brasil, e para cultivar seu relacionamento de 15 anos com um empresário que mora no exterior. Sua mãe, Sumiyo, faleceu em maio deste ano. Nas horas vagas, gosta de cantar, caminhar e assistir filmes de mistério, no estilo Agatha Christie . “Filmes água com açúcar são muito previsíveis”, afirma. Angela
também não dispensa uma boa estação de esqui. “Adoro esquiar, é um momento em que esqueço de tudo”, ressalta.
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